Alguns anos atrás um jornalista do portal Terra me disse que todo mundo sabia que os espanhóis tinham massacrado os povos mesoamericanos.
Uma verdade ineludível, segundo ele, o que eu denomino processo civilizatório para ele supunha um episódio de exploração colonizadora (o nome foi estabelecido só no século XX), os espanhóis fomos uma mancha na história dos povos indígenas. Como Terra era uma empresa espanhola, a melhor maneira de protestar radicaria em trabalhar na UOL, dignificando uma memória histórica ao modo López Obrador, sempre discutível. Não aconteceu.
Todo mundo sabia que os espanhóis tinham massacrado os povos mesoamericanos.
Misticismo
Alguns meses atrás uma senhora nos obsequiou com dois livros de San Juan de la Cruz e de Santa Teresa de Jesús, o misticismo foi o primeiro e mais genuíno movimento filosófico espanhol (a Escuela de Salamanca fundamentou todo o processo civilizatório no século XV) Agradeci e quando a questionei sobre um interessantíssimo assunto, Las Reducciones Jesuíticas no Paraná, ela mostrou uma desconformidade contida, a religião católica dizimou a cultura e por extensão deturpou a espiritualidade dos povos indígenas. Não entendia o extraordinário afeto anterior pelos dois místicos espanhóis que tão gentilmente estava doando para a nossa biblioteca.
Cuzco
Alguns dias atrás a mesma história do genocídio do nosso jornalista foi relatado em Cuzco quando uns familiares visitaram a que foi capital do Império Inca. O guia era brasileiro. Quando Atahualpa acabou com Huáscar (seu irmão) bebeu chícha no seu crâneo, os incas mantinham uma cruenta guerra civil durante anos e Pizarro embarcou no conflito antes de Cajamarca. Quando a independência, os povos indígenas e o baixo clero se mantiveram fieis à Corona, enquanto os criollos (brancos espanhóis de Lima) e o alto clero puxaram para a ruptura. A conquista foi realizada pelos indígenas (Tlaxcaltecas e Totonacas no México) e a independência, pelos espanhóis.
Quando Atahualpa acabou com Huáscar (seu irmão) bebeu chícha no seu crâneo, os incas mantinham uma cruenta guerra civil durante anos e Pizarro embarcou no conflito antes de Cajamarca.
Zonceras
A história é uma e a interpretação, infinita, quando a interpretação é uma nos encontramos perante uma ditadura ideológica, onde os critérios diversos não são bem vindos e a dialética é rejeitada, estas verdades incontestáveis se denominam Zonceras, e Zonceras existem no Brasil, na Espanha, no Peru e também na Argentina, mostra uma capacidade magistral dos poderes em todas suas manifestações para elaborar conhecimento e controlar a população (Marcelo Gullo, Madre Patria, Editorial Espasa).
Estas verdades incontestáveis se denominam Zonceras, e Zonceras existem no Brasil, na Espanha, no Peru e também na Argentina,
Zoncera é uma palavra de difícil pronunciação, interdental para os que nascemos no norte da Espanha, uma minoria, isso sim, que não deve predominar perante a complexidade do mundo hispanoamericano, predominantemente seseista e absolutamente mixigenado do ponto de vista linguístico e cultural e que tem que suportar Zonceras a destro e sinistro teimando em não prescrever, ou sequer evoluir, nem temporal, nem geograficamente ao longo da história.