Segundo Villanueva / São Paulo, 27 de Fevereiro de 2023
Segundo Villanueva Fernández. São Paulo, 27 de fevereiro de 2023
Nos anos 80 fui muitas vezes assistir jogos de futebol do meu time do coração, Osasuna (Pamplona Navarra). As arquibancadas eram de concreto e as pessoas bebiam muito, era permitido. Como hoje, xingavam demais, era menino, mas me chamava a atenção o destempero emocional dos que considerava eram pessoas com critério, os adultos, quando questionava isto do meu jeito de menino, porque era violento, me diziam que era para ser assim e que estava bem desse jeito. Todos éramos brancos, de Pamplona, eu ficava emocionado de ver jogadores que não eram nem brancos, nem de Pamplona, inclusive a primeira pessoa de raça negra que vi na minha vida foi lá, se chamava Gilberto, de Honduras, e pensava que o Elche ganharia facilmente porque ele era, assim, negro, diferente. Mas uma palavra me chamava atenção e de todas, é a que mais impacto me produziu, Sudaca. Os adultos referiam-se aos jogadores argentinos, uruguaios, peruanos e outros (menos brasileiros) pejorativamente com esta palavra, eu, não sabia muito bem se vinha de suor ou de onde, mas sua fonética não me enganava, algo estranho havia, um dia falamos de palavras bonitas e feias, esta, era muito feia. Felizmente hoje não se permite beber nos estádios de futebol, e depois de 30 anos Pamplona (como a Espanha) tem 10% da população imigrante, principalmente Equador e Argentina, mas também Cuba, Colômbia, Venezuela, quase ninguém pronuncia a palavra Sudaca, ela se perdeu no tempo, não tem mais sentido numa sociedade onde os de aqui são como os de lá.