Segundo Villanueva Fernández / São Paulo, 12 de Junho de 2023
O francês foi considerado pelas elites e os diplomatas como a língua franca por excelência. Distinguida e sonora, entre todas as representações desta lindíssima língua (o gutural, quase grotesco, porcino, elevado a música de câmera) uma chama poderosamente a atenção, o escatológico. Não é possível averiguar se foram os embaixadores que normalizaran palavras como Bidé, Retrete ou o clássico por excelência, Merde, Mierda, pois é de supor que se dedicaram a trabalhar em pro de interesses de grande importância. Dentre todas elas uma chama poderosissimamente a atenção, Enmerder, Enmierdar, como sinónimo de ofensa u injúria, com os correspondentes em espanhol Revolver ou Enredar, metafóricamente, sujar o ambiente para complicar quanto mais melhor.
Sabemos que o espanhol é conhecido pela propensão às categorias absolutas, e Mierda sugere literalidades que ficam ocultas pelo lacônico Merde, o problema radica quando na edição espanhola do controverso livro Le droit d'emmerder Dieu de Richard Malka, a diplomacia escatológica francesa é suplantada pela literalidade abrupta do espanhol para polemizar frontalmente com os limites do exercício da liberdade de expressão.